domingo, 12 de outubro de 2008

O cidadão e a cidade

Fui assaltado ontem. Estava atravessando uma passarela quando um indivíduo chegou e me disse: “é o seguinte: ou você me dá o celular ou eu te encho de pipoco em cima da ponte”.

Não acho que ele estivesse mesmo armado e, se estivesse, não acho que ele iria me matar em cima da passarela, com um monte de gente passando embaixo e em cima. Mas não valia a pena arriscar.

Perdi o celular e virei mais um número na estatística da violência. Normal.

Problema é que eu, na minha inocência, realmente levei a sério esse papo que os PMs fazem na TV de que todos os crimes, mesmo os mais simples, devem ser registrados em B.O. Segundo eles, quando os marginais são presos, muitos dos pequenos crimes que eles cometeram não podem ser incluídos no processo porque ninguém fez B.O., o que estimula a impunidade.
 
Fui lá para a delegacia, com toda a boa vontade do mundo, fazer o B.O. Encontrei o lugar às moscas, literalmente. Fiquei esperando um tempo no balcão até que um cara, com roupa de churrasco de domingo, me atendeu e disse que ia demorar para fazerem meu B.O., porque estavam “com um flagrante” e ia levar “algumas horas”, provavelmente só acabando “depois das 20h”.

Eu já estava me conformando em perder o sábado ali naquela delegacia, esperando, quando surgiu outro cara, com roupa de feijoada na casa da cunhada, me dizendo que roubo de celular podia ter o B.O. feito pela internet. Assombrado com a descoberta da tecnologia por um órgão público, decidi adotar essa solução e fui pra casa.

Maaaas, adivinhem só, o site da Polícia Civil não faz B.O. de roubo de celular, quando há ameaça à vítima. Só faz B.O. de furto. Ou seja, os competentíssimos profissionais da delegacia de polícia, pagos com meu dinheiro de contribuinte, me deram uma informação escabrosamente errada. Como eu não queria voltar lá, liguei para outra delegacia perto de casa e perguntei se eles registrariam meu B.O.

A mulher que me atendeu disse o seguinte: “olha, a gente até atende, mas o problema é que está meio corrido aqui, porque estamos com um flagrante, e acho que só vai ficar mais livre depois das 20h”. 

Engraçado né, que em pleno sábado à tarde, todas as delegacias estavam com flagrante. E que todas iriam poder atender às 20h, quando o turno do dia se encerra e entram os funcionários da noite. A presteza do serviço público é isso aí. E eles conseguiram o que queriam: desisti.

Resultado: no último sábado, fui vítima de crime violento, perdi meu celular e, oficialmente, o Estado nunca ficará sabendo a respeito, a despeito das minhas muitas tentativas.

E viva o Brasil.

2 comentários:

Anônimo disse...

É difícil mesmo, mas a greve deve ter piorado as coisas para você....

Anônimo disse...

viva o kafka tbm...

mais sorte pra vc!