Andar por São Paulo não é uma experiência para os fracos de coração. Uma esquina errada, uma entrada perdida, um ponto de ônibus passado em branco, TUDO pode e vai levar você para onde Judas perdeu as botas ou para onde o vento faz a curva. Há relatos de pessoas que foram parar na ilha de Lost.
Anteontem, tive uma experiência dessas. Por motivos profissionais, fui para o Belém – o nome não é à toa: ande mais um pouco e você chega à Terra Prometida.
Depois de 40 minutos num ônibus, achei o lugar (tive que andar um pedaço a pé, claro, pois há lugares em São Paulo em que nem as naves espaciais chegam) e fiz o que eu tinha que fazer. Aí era hora de voltar.
Por algum milagre dos deuses, passou um ônibus com o nome de “Terminal Vila Madalena”. Fiquei todo alegre, pois Terminal Vila Madalena = metrô = volta à civilização.
Mas alegria de pobre dura pouco, claro. O ônibus começou a seguir seu caminho e, durante uns bons minutos, não vi nem sinal da Vila Madalena. Mas tudo bem, estávamos longe mesmo, não íamos chegar tão rápido.
Comecei a me preocupar quando vi que meu mp3 player já tinha tocado quase metade das músicas, um fato inédito na história do aparelho. Aí passei a prestar atenção nas ruas pra ver se enxergava algum lugar familiar.
Não achei nenhum ponto conhecido da cidade, mas pude observar algo realmente singular. Há uma rua no Belém (ou sei lá que bairro eu estava àquela altura) só com lojas vendendo manequins. Sabe manequins de loja de roupa? Então, esses, mas sem roupa. Enchendo a loja toda. Enchendo todas as lojas da rua. Em uma rua interminável.
Fiquei com muito medo do mercado varejista de manequins, muito. Descobri que eles existem em todas as formas, tamanhos e etnias, que as manequins-fêmeas têm diferentes tamanhos de peitos e que os manequins-machos têm diferentes tamanhos de protuberância. Em alguns modelos, a protuberância imitava a curvatura do pênis pra direita ou pra esquerda. Ao lado desses manequins com semipênis, manequins de grávidas, manequins de criança e manequins com cabelo da Cher, todos pelados, olhavam para as pessoas da rua com seus sorrisos de plástico e seus olhos unicolores cheios de maldade. Me encolhi dentro do ônibus.
A certo ponto, começaram os manequins eróticos. Vi manequins-fêmeas curvadas, agachadas, sentadas de perna aberta, enfim, uma putaria. A cereja do bolo foi o manequim do Silvio Santos, pelado, é claro. Não era erótico, mas todo mundo que passava dava uma espiadinha na mala do Silvio, e aposto que imaginava a pipa do vovô subindo. Tenso, minha gente, tenso.
Quando eu achava que a orgia de manequins não acabava mais, o ônibus entrou num portal ultradimensional e saiu na Av. dos Estados, perto da Estação da Luz. Desci correndo rumo à liberdade e, em êxtase, quase agarrei um vendedor de vassouras que passava por ali.
Um conselho: não venha a São Paulo. Se vier, não saia do perímetro das estações de metrô. É seguro lá. Caso a pior das hipóteses aconteça e você se perca, procure um mendigo e agarre-se a ele: cheiro de cecê nenhum no mundo pode ser pior do que a vigília sorrateira de um manequim pelado.
Achou tenso? Acredite, meu amigo, você não viu nada
3 comentários:
De onde vc achou q as lojas tiravam os manequins, victor?
Do submarino.com?
mas pq vc n pediu ajuda do motorista?
Uma rápida busca no Google com os termos "rua dos manequins São Paulo" apontou resultados para a Rua São Caetano. Mas, pera lá, a Rua São Caetano não é a rua das noivas?
Definitivamente, São Paulo é uma dobra surreal do universo.
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