quinta-feira, 30 de abril de 2009

Manequim madness

Andar por São Paulo não é uma experiência para os fracos de coração. Uma esquina errada, uma entrada perdida, um ponto de ônibus passado em branco, TUDO pode e vai levar você para onde Judas perdeu as botas ou para onde o vento faz a curva. Há relatos de pessoas que foram parar na ilha de Lost.

Anteontem, tive uma experiência dessas. Por motivos profissionais, fui para o Belém – o nome não é à toa: ande mais um pouco e você chega à Terra Prometida.

Depois de 40 minutos num ônibus, achei o lugar (tive que andar um pedaço a pé, claro, pois há lugares em São Paulo em que nem as naves espaciais chegam) e fiz o que eu tinha que fazer. Aí era hora de voltar.

Por algum milagre dos deuses, passou um ônibus com o nome de “Terminal Vila Madalena”. Fiquei todo alegre, pois Terminal Vila Madalena = metrô = volta à civilização.

Mas alegria de pobre dura pouco, claro. O ônibus começou a seguir seu caminho e, durante uns bons minutos, não vi nem sinal da Vila Madalena. Mas tudo bem, estávamos longe mesmo, não íamos chegar tão rápido.

Comecei a me preocupar quando vi que meu mp3 player já tinha tocado quase metade das músicas, um fato inédito na história do aparelho. Aí passei a prestar atenção nas ruas pra ver se enxergava algum lugar familiar.

Não achei nenhum ponto conhecido da cidade, mas pude observar algo realmente singular. Há uma rua no Belém (ou sei lá que bairro eu estava àquela altura) só com lojas vendendo manequins. Sabe manequins de loja de roupa? Então, esses, mas sem roupa. Enchendo a loja toda. Enchendo todas as lojas da rua. Em uma rua interminável.

Fiquei com muito medo do mercado varejista de manequins, muito. Descobri que eles existem em todas as formas, tamanhos e etnias, que as manequins-fêmeas têm diferentes tamanhos de peitos e que os manequins-machos têm diferentes tamanhos de protuberância. Em alguns modelos, a protuberância imitava a curvatura do pênis pra direita ou pra esquerda. Ao lado desses manequins com semipênis, manequins de grávidas, manequins de criança e manequins com cabelo da Cher, todos pelados, olhavam para as pessoas da rua com seus sorrisos de plástico e seus olhos unicolores cheios de maldade. Me encolhi dentro do ônibus.

A certo ponto, começaram os manequins eróticos. Vi manequins-fêmeas curvadas, agachadas, sentadas de perna aberta, enfim, uma putaria. A cereja do bolo foi o manequim do Silvio Santos, pelado, é claro. Não era erótico, mas todo mundo que passava dava uma espiadinha na mala do Silvio, e aposto que imaginava a pipa do vovô subindo. Tenso, minha gente, tenso.

Quando eu achava que a orgia de manequins não acabava mais, o ônibus entrou num portal ultradimensional e saiu na Av. dos Estados, perto da Estação da Luz. Desci correndo rumo à liberdade e, em êxtase, quase agarrei um vendedor de vassouras que passava por ali.

Um conselho: não venha a São Paulo. Se vier, não saia do perímetro das estações de metrô. É seguro lá. Caso a pior das hipóteses aconteça e você se perca, procure um mendigo e agarre-se a ele: cheiro de cecê nenhum no mundo pode ser pior do que a vigília sorrateira de um manequim pelado.

Achou tenso? Acredite, meu amigo, você não viu nada

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Adeus, Geocities!

  
Nota do Comunique-se do dia 24:


Aaaaahhhhhh, como assim o Geocities vai fechar, meu?

Onde agora eu vou fazer meus sites com fundo pink vibrante, gifs animados pulando nas laterais e título em Times New Roman corpo 32? Estou inconsolável.

Que grande perda para a humanidade.
 
Website old school no GeoCities: as fotos aleatórias espalhadas por todos os cantos espelhavam o design pobre minimalista
 

domingo, 26 de abril de 2009

Momentos inesquecíveis da TV (1)

 
Às vezes me dá na cabeça fazer umas coisas aleatórias só porque sou bobo mesmo. Tipo hoje, quando resolvi rever o vídeo da velhinha de Páginas da Vida.

Eu adoro esse vídeo. A parte em que ela diz que acordou com a perna suspensa e com a calcinha na mão quase me faz cair da cadeira. Não só por causa da alegria desavergonhada com que ela diz isso, mas também por causa do silêncio que ela faz depois, que deve ter constrangido alguns milhões de telespectadores em suas respectivas casas ao redor do Brasil.

Esse não é o único ponto bom do vídeo. Por causa dele, também descobrimos que existem pessoas que colecionam LPs do Roberto Carlos, que existem pessoas que fantasiam sexualmente com Roberto Carlos e que existem pessoas que acordam TO-DAS BA-BA-DAS por causa do Roberto Carlos! Jesus, o Rei tem muito sex-appeal.

O engraçado é que, no dia em que esse depoimento passou, eu estava na sala da casa da minha avó, com as minhas primas, assistindo TV. Vimos a velhinha relatar seu orgasmo no gloriosíssimo momento em que ele foi ao ar. Lembro que minhas primas deram gritos de nojo, protestaram contra o grotesco de colocarem aquilo no ar, enquanto eu me acabava de rir no sofá.

Na semana seguinte, o caso repercutiu tanto que quase perdeu a graça. O orgasmo da velhinha virou tema de discussões sobre conteúdo inapropriado e ética na TV. O UOL chegou ao cúmulo de fazer uma enquete sobre os depoimentos de Página da Vida (no qual 47% dos internautas, inacreditavelmente, classificaram os relatos como “exploração”). Burocratizaram o orgasmo da senhorinha, coitada.

Prefiro imaginar que a polêmica não existiu e que a velhinha do vídeo, que deu seu depoimento sorrindo, nunca foi constrangida pela falsa moral dos outros.

Além do que, se não fosse por esse vídeo, a internet nunca eternizaria por tabela o momento final do capítulo, em que Ana Paula Arósio é atropelada por uma bicicleta. Life is sweet.

Velhinha do orgasmo te despreza
 

terça-feira, 14 de abril de 2009

William na balada


Meu subconsciente se supera.

Esta noite, eu sonhei que era amigo do Príncipe William. Nós estávamos num bar, esperando para ir para uma balada (um programa que não é a minha cara e nem a dele, note-se), e a balada era aniversário de alguém. Eu não lembro se era aniversário dele próprio ou de Lady Di, que no sonho estava viva e bombando. Só sei que, quando chegávamos na balada, o segurança parava a gente e ameaçava não deixar a gente entrar. Aí William virava macho e falava:

- Não vai me deixar entrar é? VOU TER QUE CHAMAR MINHA MÃE?

Nisso ele puxava a carteira do bolso, que era tipo dessas que vendem na 25 de Março, e mostrava a identidade. Na identidade do Príncipe William tinha uma foto da Princesa Diana, acreditem. Aí o segurança ficava assustado e deixava a gente entrar.

E depois nós dois, só na malandragem, ainda ficávamos zoando o segurança por não saber que ele era filho de Diana. Aí o sonho acabava com a gente entrando na balada.

Agora, o mais impressionante é que o sonho era em inglês. Como se não fosse o bastante, meu inglês era perfeito, brilliant, orgulho da Rainha. Falava com William de igual para igual, inclusive usando gírias e tirando umas com a cara dele. A propósito, eu sou mais engraçado que ele.

Juro que sonhei mesmo tudo isso. Antes que alguém pergunte, não, eu não sou obcecado pela Família Real Inglesa. Pra falar a verdade, já fazia uns meses que eu nem lembrava que Príncipe William existia.

Mas sei lá né, talvez essa seja uma indicação de que eu nasci para viver como um nobre. Ou como um baladeiro mimado folgado. Façam suas apostas.

Meu novo BFF e duas minas que conhecemos na balada... safadjénho

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Orgulho da classe

Como o leitor sabe, eu sou jornalista. A amiga abaixo também é. Leia o que ela tem a dizer a respeito:


O que mais me dói é saber que, apenas por trepar toda noite ser casada com o dono da RedeTV, Daniela Albuquerque deve ganhar mais em uma semana do que eu ganho em um ano.

Mas também, quem mandou eu passar a infância tomando Nescau, né?

domingo, 5 de abril de 2009

A vida e a avenida

 
Continuando a linha “coisas que vi faz tempo mas só agora tive saco de escrever sobre”, resolvi falar de Avenida Dropsie, que vi pela terceira vez no sábado retrasado.

O prédio

Avenida Dropsie é uma peça montada pela Sutil Companhia de Teatro e baseada livremente nas graphic novels do grande Will Eisner. Em vez de adaptar uma história só, o roteirista e diretor Felipe Hirsch pegou episódios de obras como Avenida Dropsie, O Cortiço, Nova York – A Grande Cidade, Pequenos Milagres, A Life Force e sabe-se lá quais outras, e misturou tudo numa história em que personagens viram coadjuvantes perante o elemento que os une – a avenida.

A avenida, entenda-se, é metáfora da cidade, e está representada, principalmente, pelo belíssimo edifício de dez metros de altura, três andares e muitas janelas no fundo do palco, único cenário do espetáculo. É dali que os moradores da Avenida Dropsie, em alguma década indefinida do começo do século passado, observam os bêbados, os mendigos, os apressados, os enamorados, enfim, os muitos tipos da cidade grande que Eisner tão bem representava em seus livros.

Ao longo de quase duas horas de peça, esses personagens – a maioria sem nome – vêm e voltam em historietas ora engraçadas, ora dramáticas, ora curiosas, ora estranhas. Todas curtas, com duração de minutos, mas eternas enquanto duram. Como em uma cidade de verdade.

O roteiro, bem amarrado, não deixa o espetáculo ficar efêmero por falta de uma trama principal. E faz bom uso dos recursos técnicos para manter tudo interessante. Entre o público e o palco, uma tela transparente recebe a projeção de balões de fala sobre os personagens, como nas graphic novels, e também de animações que separam os capítulos da peça, se é que assim eles podem ser chamados. A certo ponto, chove no palco, e os atores, encarnando personagens diversos, correm afobados tentando escapar da água.

Tudo isso é pontuado pela narração afável de Gianfrancesco Guarnieri, com seu notável sotaque italiano casando perfeitamente com a voz de velhinho que a idade lhe trazia na época da gravação. Gianfrancesco morreu em 2006, ano de estréia da peça, e reencontrá-lo agora em 2009 é um prazer saudável, principalmente para quem teve a infância marcada pela atuação do homem como o Seu Orlando do seriado Mundo da Lua.

As pessoas

Essa foi a terceira vez que vi Avenida Dropsie. Assisti pela primeira vez na estréia, em 2006, junto às cerca de 40 mil pessoas que viram a peça no Teatro Popular do SESI. No mesmo ano, arrisquei minha pele andando por Santo Amaro à noite só pra rever o espetáculo no Teatro Alfa. E agora, com ela de volta ao SESI, tão perto de tudo, não poderia deixar de assistir novamente.

Tecnicamente, não digo que fica melhor a cada vez que assisto porque a primeira versão, que tinha Magali Biff no elenco, continua imbatível. Mas toda vez que vejo Avenida Dropsie sinto uma certa paz de espírito parecida com a que sentia quando era criança e via aqueles filmes infanto-juvenis dos anos 80, como Os Goonies e História Sem Fim.

É engraçado notar que essa sensação não vem da peça em si, pois a linguagem de Avenida Dropsie não é infantil. A visão mostrada é, pelo contrário, a de alguém com muita idade, que já conhece aquela cidade tão a fundo que se despe de vaidades para falar sobre ela. Mas que nem por isso deixa de falar com carinho, com humor.

Will Eisner era mesmo um gênio, por saber narrar uma história assim, e Felipe Hirsch e sua trupe são outros, por saber adaptar esse estilo tão bem.

Eu não sei se Avenida Dropsie volta a entrar em cartaz (na teoria, a apresentação de ontem, dia 4, era a última de todas). Se voltar, peça demissão de seu emprego, perca o vestibular, venda um rim, mas não deixe de ver. Não importa quantas continuações façam para The Spirit, Avenida Dropsie é a adaptação definitiva de uma obra de Will Eisner.

A chuva (insira aqui sua piada maldosa sobre São Paulo)

sábado, 4 de abril de 2009

O show do Radiohead

 
É, o blog tá meio às moscas né, mas não tem problema, porque tia Vânia tá com o PC na assistência técnica mesmo.

Tanto é que hoje vou falar de um assunto de 15 dias atrás. Com vocês:

Meu show do Radiohead

"This is what you get, when you mess with us"

Eu não sou fã do Radiohead. Nunca fui. O mais perto que cheguei de ser foi gravar o clipe de Fake Plastic Trees em VHS, na época em que passava, e ficar assistindo repetidas vezes na sala de casa, de tão legal que era. Mas isso eu fiz com muitos clipes.

Quando anunciaram o show, há tantos anos prometido, resolvi comprar um ingresso. Achei que, até a data chegar, dava tempo de gostar da banda. Fora o fato de querer saber o que o Radiohead tinha que atraía tanta gente.

Procrastinador como sou, deixei pra ouvir Radiohead só quando o show já estava perto. Gostei das músicas do The Bends. Dormi nas do Kid A e Amnesiac. O disco novo, que eu já tinha ouvido na época do lançamento, não fede nem cheira. Gostar mesmo, de viciar, só de uma música, Just. Previ então muitos bocejos para o show.

Meu pai do céu, nunca foi tão bom estar errado. O Radiohead tem um show demolidor, que pega você pela garganta mesmo. Músicas intensas, envolventes, tocadas com vontade, e sem sinal de egotrip. Sabe quando você faz bem um trabalho, porque já faz há muito tempo e conhece o processo de cabo a rabo? O show do Radiohead é assim, um show de gente que se especializou em fazer isso.

Claro que as músicas ajudam, outro mérito da banda. Quem tem no repertório uma Karma Police, uma Jigsaw Falling Into Place, quase não tem como fazer feio. E que bonito foi ver as pessoas cantando Paranoid Android depois do fim da música, e Thom Yorke retomando a canção por causa disso. Ou o coro de 30 mil pessoas cantando Creep (alguém na face da Terra não sabe o refrão dessa música?).

Detalhe que não tocaram Just, grande injustiça. Mas tocaram Fake Plastic Trees, que me lavou a alma, de verdade.

O festival de luzes e cores no cenário, que eu sempre tive como desnecessário para um show de rock, foi um espetáculo à parte. Me fez mudar de opinião, até. Os recursos técnicos, quando usados com competência e bom senso, podem sim ser um complemento perfeito para o som. Nesse show, eles eram a encarnação visual e estroboscópica do delírio das músicas. O transe era quase automático.

Foi um dos melhores shows da minha vida. O que os Hives esbanjaram em presença de palco, o Radiohead compensou (e ultrapassou) com a combinação perfeita entre música e cenário. Valeu o dinheiro do ingresso e o stress com a péssima organização. Espero um dia poder ver de novo. Com a mesma energia. E com Just, se der.

 

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Tá virando palhaçada

 
Não bastasse ser chamado de Evita ao telefone, esses dias recebi um e-mail com o seguinte título:

"Por favor Kely, conforme falamos, reencaminhe este e-mail para o mailling de vocês, Grato, Rudi. MANIFESTAÇÕES EM DEFESA DO JORNALISMO"

Kely? KELY?? Olha, se eu resolvesse me converter ao travestismo, com certeza eu não usaria o nome de Kely. Um L só é coisa de rampeira, né? Eu escolheria algo mais sexy e ousado, tipo Gygysllaine.

Obs.: não, este blog não morreu. Aguardem-me.