quarta-feira, 28 de novembro de 2007

I'm a terrible person...

Existem poucas coisas mais adequadas para guilty pleasures do que música de comercial. Música de comercial é uma coisa que, quando pega, pega de jeito, se instala na sua cabeça e enche você de earworms (aqueles bichinhos invisíveis que fazem você sentir uma vontade incontrolável de cantar coisas como Charlie Brown Jr. e Thalia no chuveiro).

Pois não é que, nos últimos dias, comecei a ser tentado por mais uma maldita música de comercial? Tentei fugir, mudar de canal, fingir que não era comigo, mas não teve jeito: a coisa me pegou pior que o clássico "como é bom te ver, você chegou na hora H...".

Trata-se de "I'm a terrible person", do Rooney, trilha do comercial do perfume CH, da Carolina Herrera. (Não vire a cara pro lado, eu sei que você sabe do que eu estou falando, e sei que você gosta também). A banda não é nada de mais, mas essa música, excepcionalmente, traz uns versos pegajosos e uma mudancinha de ritmo antes do refrão que não me permitiram resistência.

O engraçado é que a letra fala de um cara que maltrata a namorada e, toda vez que eu ouço, imagino cenas tragicômicas da Lisa Cant - a modelo do comercial de perfume - sendo sacaneada pelo namorado e sofrendo por causa dele. Música de comercial agora também causa masoquismo.

domingo, 25 de novembro de 2007

Do porquê deste blog

Eu costumava odiar escrever redações, mas agora eu gosto delas. Percebi que o objetivo da escrita é melhorar idéias fracas, obscurecer raciocínios fracos e minimizar a clareza. Com um pouco de prática, a escrita pode se tornar uma névoa intimidadora e impenetrável!
Calvin, amigo do Haroldo


Por que criei este blog, pergunto-me. Vejamos os possíveis motivos: fazer amigos? Não. Fazer marketing do meu trabalho? Não. Ficar famoso? Pfff. Porque gosto de escrever? Não.

Aliás, antes de ir além, gostaria de comentar o último item. Adoro quando alguém justifica um blog (ou coisa que o valha) pelo simples amor à escrita. É ridículo. O lírico-lirismo fica tão à mostra que beira a vulgaridade. Lembro-me de ter lido um texto de Clarice Lispector desse tipo - é especialmente ruim quando alguém como ela fala sobre a língua portuguesa como se estivesse tendo um caso amoroso com a tal. Posso até ver Clarice, louca de tesão, se esfregando alucinadamente num volume de Os Lusíadas no meio da Biblioteca de Alexandria, estirada no chão enquanto morde uma das mãos e, com a outra, esfrega o livro na virilha. Feio, Clarice, feio.

Prefiro não romantizar. A língua já foi tão escriturariamente estuprada por tantos outros como Clarice, tantos outros que se debulham em dizer como amam o português, como se elevam às estrelas a cada parágrafo terminado, como cada sílaba é um deleite e cada palavra é um orgasmo, ah, tantos outros que pingam os is como se beijassem os amantes, que se atiram às crases como velhos sobre ninfetas, que excitam-se com as metáforas e masturbam-se com os simbolismos, que se angustiam com a folha em branco como virgens se angustiam com a meia-idade. A língua sofre mais com esses românticos de boutique do que com os adevogados, pobremas e istrombos da vida, porque estes últimos são dignos em sua ignorância, ao contrário dos incensuráveis violentadores, que descem ao mais baixo degrau de imoralidade quando, embebidos em seu fetiche grotesco, violentam e abusam das palavras.

Mas fugi do assunto. Meu blog, certo? Meu blog é isso aí. Sem assunto específico, sem periodicidade, sem compromisso. Quase uma repartição pública. O nome é herança de uma das melhores vinhetas do Garoto Enxaqueca, um dos meus gurus para a eternidade. Ele remete diretamente ao fato de que, em muitos momentos passados, presentes e futuros da minha vida, eu realmente preferiria pegar pneumonia e morrer.

Talvez daqui a alguns dias/meses/anos, eu olhe para este blog e diga: prefiro pegar pneumonia e morrer a escrever nesta coisa. E talvez eu realmente pegue pneumonia e morra. Algum pobrema?